A relação entre saúde pública fragilizada e o aumento da ansiedade
A saúde pública no Brasil sempre foi um espelho das fragilidades do país. Cada fila que aumenta, cada falta de médico, cada exame que demora meses para ser marcado, cada notícia de corte de verba — tudo isso vai se acumulando na mente das pessoas de um jeito que não aparece nas estatísticas, mas pesa no emocional de milhões de brasileiros.
Quando o sistema de saúde está fragilizado, a vida cotidiana se torna uma espera constante. Espera para ser atendido, para conseguir vaga, para pegar um remédio, para fazer um exame, para receber um resultado. E viver esperando desgasta. Desgasta porque cada minuto na fila é mais um minuto de incerteza. Desgasta porque o corpo sente o que a mente tenta ignorar: o medo de não ser atendido a tempo.
A ansiedade cresce exatamente nesse espaço entre a necessidade e a dúvida. A pessoa sabe que precisa de cuidado, mas não sabe se vai conseguir. Sabe que depende do sistema, mas não sabe se o sistema funciona. Essa insegurança constante cria um estado emocional de alerta — aquele nó no peito que nunca vai embora por completo.
E isso afeta mais do que o dia da consulta. Afeta o sono, porque o cérebro passa a noite pensando na fila. Afeta o humor, porque a frustração vira rotina. Afeta relações, porque a irritação cresce sem motivo aparente. Afeta o trabalho, porque a mente está sempre dividida entre a vida e a preocupação.
A saúde pública fragilizada também cria uma sensação coletiva de desamparo. As pessoas começam a acreditar que estão sozinhas, que precisam “dar um jeito”, que nada vai melhorar. Essa falta de confiança nas instituições aumenta a ansiedade social — aquela em que não é apenas o indivíduo que está preocupado, mas a sociedade inteira.
E há ainda o peso das notícias. A cada reportagem sobre UPAs lotadas, hospitais colapsados, falta de insumos ou médicos exaustos, a mente reage como se estivesse vivendo aquilo naquele instante. Não importa se é no seu bairro ou em outra cidade — a sensação é de ameaça. E a ansiedade se alimenta justamente dessa percepção de risco permanente.
Quando a saúde pública falha, o emocional do país também falha. Porque saúde não é só corpo: é segurança, é proteção, é a certeza de que, quando algo der errado, haverá alguém para cuidar.
Quando essa certeza desaparece, o medo ocupa o lugar. E o medo, quando dura tempo demais, vira ansiedade.
No fim, a saúde pública fragilizada não adoece apenas o sistema — adoece a mente de um país inteiro que tenta seguir vivendo enquanto convive com a sensação constante de que pode não ser atendido quando mais precisa.